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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Fatos marcantes até os meus 15 anos – 1945 de Paulo Konder Bornhausen


Fatos marcantes até os meus 15 anos – 1945
                                         Paulo Konder Bornhausen

         É evidente que não irei descrever sobre assuntos pessoais da minha infância, vou contar-lhes apenas fatos que vi e convivi até os meus quinze anos de idade, que tem relevância ou curiosidade para a maioria dos meus amigos, que provavelmente não haviam sequer nascido. Não se trata de “passadismo” inconseqüente, mas de fatos passados que são patrimônio marcante da minha memória, que devo preservar e resolvi revelar-los.
         Vou enumerá-los, sem preocupação de ordem cronológica:
        
         Viagem no Navio Carl Hoepcke
         Viagem feita no navio Carl Hoepcke de Itajaí ao Rio de Janeiro. Uma aventura de cinco dias (estava acompanhado do Sr. Nestor Scheifler, sócio de meu pai numa empresa de despachos aduaneiros; a Bornhausen & Cia e do meu primo, o ex Governador Dr. Antonio Carlos Konder Reis, que tinha dezesseis anos) Esta epopéia se iniciou em Itajaí com paradas para abastecer e pegar novos passageiros em São Francisco, Paranaguá, Santos, Angra dos Reis, sucessivamente, antes de chegar ao Porto da Praça Mauá no Rio de Janeiro. Eu e o Antonio Carlos, chegamos em estado precário de tanto que enjoamos a bordo.
         Zepelim
         Assisti a passagem, pelos céus de Itajaí no jardim do Solar dos Konder, do primeiro ZeppelimHindenburg, a mais nova descoberta naquele momento, no setor de aviação que se supunha viesse concorrer com os aviões pequenos e hidroaviões.
        
         Patinação no Gelo
         Tive o prazer de ver uma novidade no país, a primeira pista de gelo artificial do Brasil, no Cassino da Urca, onde com meus pais, assistimos o show da maior patinadora do mundo na época, Sonja Heine. Um espetáculo inesquecível.
         Desastre Aéreo
         Tive a infelicidade, por enorme coincidência, assistir um dos maiores desastres da aviação brasileira. No percurso da Avenida Luis Alves, que contorna o Bairro da Urca, tinha saído para caminhar com a minha prima Iolanda Fleischmann Mendonça, avenida esta cercada por um muro de um metro de altura chamado de “Muro dos Namorados”, escorado por um molhe de pedras nas quais pescava goiás, chamados no Rio, de Guaiamus. Logo que chegamos, vimos levantar vôo no Aéro-Club do Rio, próximo a Sede Social do Iate Club, na Praia Vermelha, um Cessna monomotor. Acompanhávamos o seu vôo, no momento em que chegava um Constellation da Panair do Brasil, em preparativos para aterrissar no Aeroporto de Santos Dumont. Vimos o Cessna (Teco-Teco) se aproximar da Aeronave, e ainda comentei com Iolanda (conhecida por Landi); “Landi, eles acabam se chocando.” Não passou de um minuto, e deu-se o choque, com a queda dos dois aviões em destroços em plena Baía Guanabara. Sem sobreviventes. Ficamos mudos, aterrorizados.
         Bairro da Urca
         Um bairro de menos de 300 residências, inclusive uns cinco prédios de quatro andares, que era o gabarito permitido. Lá morei 21 anos (Otávio Correio, nº 289) fui vizinho de pessoas que vocês já ouviram falar e com elas tinha contatos variados. No meio artístico, por causa da proximidade do Cassino da Urca; Carmem Miranda (primeira atriz brasileira a ingressar em Hollywood), as irmãs cantoras, Aurora e Marília Miranda, o nosso famoso Grande Otelo, a dupla sertaneja Alvarenga e Ranchinho, John Herbert e Eva Wilma (eram casados) Jardel Filho, Dalva Oliveira e Herivelto Martins, artistas de cinema, de teatro e mais tarde da TV. O Nelson Gonçalves, que conheci como boxer peso pena e depois foi um grande cantor, iria se tornar meu particular amigo. O Seresteiro Silvio Caldas, que quando universitário, foi meu companheiro de boemia. Entre gente famosa, o Ministro Waldemar Falcão, Ministro de Educação do Getúlio, o Dr. Aramys de Athayde que viria ser Ministro da Saúde, na queda da Ditadura, no Governo Café Filho, o político e industrial catarinense Alvaro Catão, o jornalista, mais tarde Deputado, Amaral Neto, o também famoso jornalista Helio Fernandes da “Tribuna Imprensa”, jornal mais virulento da oposição a Ditadura Getulista. O sr. Pedro Ragio (sócio de Antonio Joaquim Peixoto de Castro) a época concessionário da Loteria Federal. O famoso Juiz de futebol Mário Viana, o grande jogador de basket Evora do Flamengo, os jogadores de futebol do Botafogo, os irmãos Paulo e Digo Tovar, Otávio e Carvalho Leite, e uma lista cansativa de outros nomes, de que de uma forma ou de outra fazem parte da nossa história.
         Barra da Tijuca
         Era um deserto com apenas casas de pescadores e algumas poucas casas de alvenaria. Saía para pescar siri com um vizinho, médico do Corpo de Bombeiros, Dr. Leão e para chegar lá, depois da estrada do Joá, tínhamos que atravessar de balsa. Hoje a Barra da Tijuca é uma verdadeira cidade, que os cariocas sempre jocosos chamam de “nossa Dubai”.
         Carlos Lacerda
         Meu primeiro contato com Carlos Lacerda foi, em uma palestra no Colégio Santo Inácio, no qual estudava. Foi tão brilhante e de uma oratória incomum, que levou a me apresentar para cumprimentá-lo. Mais tarde, se tornou meu ídolo político, do qual viria em 1947, participar da sua campanha a Vereador. Tornou-se meu grande amigo e companheiro e o considero o Ruy Barbosa da Nova República. Rompi meu relacionamento, quando formou a “Frente Ampla” com o Juscelino e o Jango.
         Forças Expedicionárias Brasileiras
         Um fato que muito me marcou foi minha ida ao Cais Porto, na Praça de Mauá, à chegada das Forças Expedicionárias Brasileiras que participaram da 2º Guerra Mundial e que teve a acolhida de milhares de brasileiros, sob intensa vibração e fizeram um desfile emocionante. Por coincidência, na semana posterior, o Jockey Club Brasileiro em sua homenagem incluiu na sua programação semanal, o Grande Prêmio Forças Expedicionárias Brasileiras, que foi ganho por um cavalo, de propriedade de meu pai Irineu Bornhausen. O cavalo chamava-se Piccadily (filho de Picapleitos e Marble) criado pelo gaucho Breno Caldas (Dono do Correio do Povo e do Haras Arado). Foi pilotado pelo jóquei chileno Augustin Guttierres e o tratador era o também gaucho Alexandre Correa. Eu já entendia de tudo do Turf, pois meu pai me levara ao Hipódromo, pela primeira vez, aos oito anos.
         Ditador Getúlio Vargas
         Presenciei os indícios da queda da Ditadura Vargas. Era praxe no dia 7 de Setembro, o Presidente da Republica desfilar de carro aberto na pista de grama do Hipódromo da Gávea, para assistir o Grande Prêmio em sua homenagem. Estava no Hipódromo com meu pai, ansioso pela entrada do Ditador. Naquele tempo, o Turf atraia multidões, pois a não ser a Loteria Federal, não haviam outras espécies de jogos legais no país, fora os Cassinos da Urca e o Atlântico. As quatro Tribunas, Popular, Especial, Social e dos Profissionais se encontravam superlotadas. Quando o carro aberto adentrou na pista de grama e iniciou a caminhada, já no começo da Tribuna Popular iniciou-se uma vaia que foi se tornando “estrondosa” até o desembarque na Tribuna Social. Quando Getulio subia as escadarias, para ascender a Tribuna de Honra, o tumulto foi generalizado. Cercado pelo chefe de seus “capangas”, o negro Gregório, conseguiu chegar a Tribuna de Honra e no que apareceu abanando para a multidão, as vaias chegaram a tal ponto que ele não pode assistir o Grande Prêmio em sua homenagem e retirou-se pela porta de entrada da Tribuna Social debaixo de apupos e gritaria generalizados. Era o sinal da queda da Ditadura. O que por certo acontecerá se a Presidente Dilma tiver a coragem de assistir a inauguração da Copa do Mundo.
    
     Seriam muitos outros episódios, e o conhecimento de muita gente e fatos históricos que poderia enumerá-los, se não fossem exaustivos e por isso fiz uma seleção, uma síntese de acontecimentos notórios, dos meus primeiros quinze anos, que a minha velha memória me permitiu.
     Depois disto, estou vivendo há mais 70 anos. Então, imaginem o que vivi, assisti e convivi neste longo tempo de existência, sobre os quais escrevi quatro livros “Retrato Político de Uma Época” (1947 a 1960) e “Retrato Político de Uma Época” (1960 a 1982), “Pesquisas e Arquivos Políticos do PKB” e “Banco do Brasil dos Meus Tempos” que trazem uma pequena parcela destes meus outros setenta anos, que com graça a benesse Divina vivo. Apesar disso, diante dos acontecimentos do Brasil e do Mundo nos dias de hoje, estou convencido que na realidade, acredito que vou morrer e “não vi nada, absolutamente nada”.

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