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terça-feira, 13 de agosto de 2013

“Causos” da Assembléia- Pedro Kuss e Santo Eustáquio de Paulo Konder Bornhausen


Como escrevi diversas vezes, tive que percorrer o Estado à caça de votos para me eleger Dep. Estadual em 1954.
Encontrei em Mafra em razão de ser grande amigo do meu tio Adolfo Konder, um senhor muito hábil, prestigiado, chamado Melquiades Fernandes, que com o Mário Saporiti, Gerente do INCO, se encarregavam de apresentar a alguns líderes políticos e para tanto por diversas vezes percorri, suas localidades do interior, Rio de Areia de Cima, Rio de Areia de Baixo, Canivete e tantos outros.
O grande chefe politico de Mafra, Pedro Kuss, do PSD, era um senhor alto, forte e feio como a necessidade. Tão feio que quando se elegeu foi apelidado em Florianópolis de Marta Rocha que se elegera Miss Brasil.
Ele não se conformava com a minha presença em seu território eleitoral e por onde eu passava distribuindo as minhas cédulas, ele  mandava  seus capangas atrás, no propósito de dissuadir os eleitores que tinha visitado e se possível trocar as cédulas minhas pelas dele.
Eleitos os dois (consegui mais de seiscentos votos em Mafra, uma façanha) ele nunca perdoou que o município que se julgava absoluto, tivesse contribuído para minha eleição.
No plenário, todas as vezes que subia a Tribuna, ele me pedia um aparte.
- Deputado Paulinho, pode me conceder um aparte?
Fazia-o sempre e nos mesmos termos até o dia que não mais suportei e pedi ao Presidente Dep. Braz Alves a palavra pela ordem e me pronunciei;
-Senhor Presidente, exijo que o Dep. Pedro Kuss me chame pelo meu nome parlamentar Paulo Konder Bornhausen. Previno V. Excia. que se ele insistir em me chamar de Dep. Paulinho, passarei a chama-lo pelo diminutivo ou aumentativo do seu sobrenome.
Foi uma gargalhada geral no Plenário e nas Galerias.
A partir deste dia até o fim do mandato o Dep. Kuss nunca mais se dirigiu a minha pessoa.
O caso de São Eustáquio foi um episódio inesquecível.
O Governador enviara para a Assembléia um projeto alterando a Lei de Sêlo, que seria o ICMS dos nossos dias. Era vital para cumprir o seu programa. Eu era Presidente da Assembléia e o voto minerva. (havia empate entre os governistas e opositores, e eu exercia o voto desempatador, que em linguagem parlamentar chama-se voto Minerva e foi assim durante todo o período em que fui Presidente).
Havia dado urgência ao projeto que aprovado pelas Comissões de Finanças, Constituição e Justiça foi inserido na pauta para votação.
Era uma sexta-feira em que seriam votados três projetos, inclusive a alteração da Lei se Sêlo. Regimentalmente na sua discussão poderiam usar a palavra três deputados que eram a favor do projeto e três contra, pelo prazo de 5 minutos, na forma alternativa.
A favor, falariam os Deputados Laerte Ramos Vieira, Sebastião Neves e Ruy Hulse. Contrários ao projeto, os deputados Lenoir Vargas Ferreira, Estivalet Pires e Ivo Silveira.
Quando concedi a palavra ao Dep. Lenoir, o Dep. Laerte que era líder da maioria, veio esbaforido até a Mesa, me comunicar que estávamos em minoria, pois o Dep. Arruda, do Partido Democrático Cristão (PDC) eleito por Ituporanga, não tinha sido encontrado nem na  Assembléia, nem em sua casa e disseram que não sabiam do seu paradeiro. Conversei com o Dep. Volney Colaço de Oliveira, primeiro Secretário e resolvi dilatar o prazo das discussões para ver se o Dep. Arruda apareceria. Quando chegou a vez do último deputado falar, o Volney com a sua astúcia, experiência e inteligência pediu a nossa secretária Luiz Doim Vieira que lhe trouxesse a “folhinha”. Era como chamávamos o calendário. Tratava-se de um bloco que continha na parte frontal o dia, mês e o ano e no verso o Santo do dia, com uma pequena biografia.
Como já havia dito, era uma sexta-feira, dia de São Eustáquio.
Ele leu rapidamente a biografia do São Eustáquio e solicitou enquanto o Dep. Ivo Silveira falava, a palavra pela Ordem que regimentalmente tinha prioridade;
- Presidente, peço a palavra pela Ordem.
Eu respondi; - Concedo a palavra pela Ordem ao Deputado Volney Colaço de Oliveira.
Foi à tribuna com a folha do calendário na mão (folhinha) para se garantir de não esquecer o necessário para seu pronunciamento.
Começou falando do São Eustáquio, dos seus milagres e se prolongou descrevendo sua vida usando sua fértil imaginação que levou uns cinco minutos, complementando com a veneração que os lagunenses seus conterrâneos tinham pelo Santo e neste dia todas as Paróquias de Laguna realizavam procissões em agradecimento aos milagres que continuavam a receber seus devotos.
Finalmente concluiu;
-Sr. Presidente em face do exposto peço a V. Excia. Que suspenda esta sessão em homenagem a São Eustáquio.
Apertei a campanhia e com tom sério e voz alta disse;
 – Está suspensa a presente sessão em homenagem a Santo Eustáquio e convoco os senhores deputados para a Sessão Ordinária de Segunda-feira.
Foi um pandemônio. A oposição que estava em maioria começou a gritar impropérios, palavrões, reclamações, formando-se um grande tumulto.
Uma baderna dos diabos.
Nós, da mesa, nos retiramos para o meu gabinete não dando ouvidos aos protestos, por sinal legítimos.
Na sessão de segunda-feira, já com a presença do Dep. Arruda que estava presente, dando versões do seu desaparecimento, inclusive que sentiu-se mal e foi para o Hospital São Sebastião, que vim a saber mais tarde, pois morava na casa vizinha do mesmo, que não era verdade.
Coloquei o projeto da Lei do Sêlo em pauta e em seguida fiz a votação nominal e com o meu voto Minerva, foi aprovado.
O Volney não se conteve e gritou;
- Mais um milagre do São Eustáquio!

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