Ele é o mocinho e o vilão das dietas. Se por um lado o aspartame substitui o açúcar em diversos produtos dietéticos e promete uma fácil perda de peso, por outro, suas implicações na saúde dos consumidores ainda são bem controversas.
Em 1965, o químico James Schlatter acidentalmente contaminou a ponta do seu dedo indicador com um pó branco qualquer. Mais tarde naquele dia, uma página do livro que ele estava lendo ficou presa. Para soltá-la, ele lambeu o dedo para virá-la e, inadvertidamente, deu à luz toda uma indústria, bem como a uma controvérsia aparentemente eterna.
Refrigerante diet: amigo ou inimigo? Bebida é ligada à má saúde
A substância no dedo de Schlatter, 200 vezes mais doce que o açúcar, era o aspartame, um adoçante artificial hoje utilizado por praticamente todas as empresas que fabricam produtos para dietas. Quase 50 anos depois de Schlatter ter descoberto a incrível doçura do aspartame, ainda existe discordância entre os cientistas sobre a segurança da substância para o consumo humano.
O lado maligno dos adoçantes artificiais
Em essência, o aspartame é composto por dois aminoácidos com um átomo de carbono adicional preso em uma extremidade. O aspartame se decompõe completamente em três componentes no intestino delgado, que fazem seu caminho separado para a corrente sanguínea.
Um dos dois aminoácidos do aspartame, o ácido aspártico, não é essencial, o que significa que o corpo pode fabricá-lo a partir de outras matérias primas. O ácido aspártico é também um neurotransmissor, o que levou à especulação de que o consumo de aspartame afeta os processos normais do cérebro, podendo causar dores de cabeça, enxaquecas, ou efeitos ainda piores. No entanto, quase toda a proteína dietética contém ácido aspártico, e este ácido é encontrado em menor quantidade em alimentos e bebidas adoçadas artificialmente do que a quantia obtida por meio de uma dieta normal.
Adoçantes artificiais engordam?
No entanto, fenilalanina, outro aminoácido no aspartame, é mais uma história – mas só para um pequeno grupo da população mundial. A fenilalanina é um aminoácido essencial, o que significa que o corpo só pode adquiri-lo através da dieta. Para pessoas que sofrem da doença fenilcetonúria, a ingestão desse aminoácido resulta em um perigoso acúmulo de fenilalanina que pode danificar o cérebro.
Embora os aminoácidos presentes no aspartame sejam inofensivos para a maioria das pessoas, o júri científico ainda delibera sobre aquele átomo de carbono adicional anexado ao final da molécula. Quando uma molécula de aspartame se rompe no intestino delgado, este carbono desengata dos ácidos aminados e forma uma única molécula de metanol.
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é encontrado em anticongelantes (compostos químicos que são adicionados a líquidos para reduzir seu ponto de fusão) e no combustível de foguetes, entre muitas outras aplicações. O efeito do metanol no corpo é similar, em alguns aspectos, ao de etanol, o álcool presente no vinho e na cerveja. Entretanto, ao contrário do etanol, o corpo transforma o metanol produtos residuais, entre eles o formaldeído, uma substância cancerígena que agentes funerários usam como fluido de embalsamento dos cadáveres.
Se o aspartame leva metanol à sua corrente sanguínea, seria apenas lógico evitar os adoçantes a todo custo, certo? Não é bem assim. Há um fator de confusão nessa história: o metanol também é encontrado em todos os tipos de alimentos inofensivos, especialmente em frutas e verduras, em quantidades comparáveis às dos alimentos que contêm aspartame. Na verdade, os refrigerantes dietéticos com adição de aspartame possuem menos de metade do metanol encontrado no mesmo volume de muitos sucos de fruta.
Este é o momento em que a controvérsia começa. Para alguns pesquisadores, está claro que o metanol é inofensivo nos alimentos que possuem pequenas quantidades de aspartame. No entanto, um estudo realizado em 2005 pela Fundação Europeia Ramazzini, que acompanhou a saúde de ratos alimentados com aspartame durante a vida inteira, associou o consumo de aspartame ao maior risco de desenvolver câncer.
Alguns pesquisadores, assim como a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, encontraram falhas nos métodos do estudo, enquanto outros cientistas correram para defendê-lo, argumentando que, no mínimo, o aspartame requer exames contínuos. No centro do debate está o fato de que uma grande porcentagem da população mundial dos ratos, assim como a humana, vai eventualmente sucumbir ao câncer em uma idade avançada. Por isso, fica difícil para os cientistas afirmarem categoricamente se o câncer desenvolvido por um rato mais idoso foi causado pela vida inteira ingerindo uma substância como o aspartame, ou se o câncer teria ocorrido naturalmente.
Enquanto o debate sobre a segurança a longo prazo do consumo de aspartame persiste, é importante considerar o adoçante não em termos de sua segurança por si só, mas se ele é mais saudável do que a sua alternativa tradicional: o açúcar. Dado o aumento das estatísticas dos níveis de diabetes e de obesidade no mundo (e não apenas nos países desenvolvidos), é possível que, para algumas pessoas, um alimento alternativo com zero açúcar, por mais que traga alguns riscos à saúde, ainda pode ser uma escolha mais saudável do que o açúcar. E nesse meio tempo, novos edulcorantes artificiais, tais como a sucralose, estão inundando o mercado, o que pode ou não levar seus próprios riscos para a saúde.
Resumo da ópera: o aspartame é amplamente considerado seguro, mas algumas dúvidas sobre a segurança de seu consumo para a nossa saúde permanecem.
Há, no entanto, uma alternativa indiscutivelmente mais saudável para tanto os adoçantes artificiais quanto o açúcar, é claro. Deixe de lado a latinha de refrigerante (normal, diet, light, zero…) e beba um belo copo d’água – ou café e chá, sem açúcar. [Live Science]
http://hypescience.com/
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