Bem vindos!

Variedades de Floripa ! notícias, política, depoimentos, críticas, curiosidades, vídeos e receitas !
Participe !

Todos os posts estão divididos por área, então se você tem interesse de ver somente um tipo de post, utilize a barra de categorias no topo da página, ou na seção de tags ao lado.
___________________________________________


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O “blefe” que levei do Bispo Daniel Hoistin de Paulo Konder Bornhausen


O “blefe” que levei do Bispo Daniel Hoistin

 Com o veto do Diretório Municipal da UDN de Joinville, negando o registro da minha candidatura a Deputado Estadual, face ao rompimento do seu grande líder, o ex-prefeito da cidade que rompera com o meu pai Governador Irineu Bornhausen, embora o Presidente fosse um Diretor da Fundação Tupy, Nelson Wilson Bonder, também meu desafeto, minhas pretensões ficaram muito reduzidas. Ainda assim, o vigor dos meus 23 anos, não permitiu que eu desistisse dos meus objetivos de seguir a tradição da família Konder e Bornhausen.

          Haveria de encontrar meios de ser escolhido candidato por outro município, ainda que de menor expressão (existiam pouco mais de 60 em 1953).

          Como participara ativamente da campanha para prefeito em Guaramirim, realizada meses antes e que a UDN foi vitoriosa com a eleição do Rodolfo Jahn, me tornando seu amigo, bem como conquistando a amizade e a admiração dos lideres udenistas locais, revelei a minha pretensão, que foi acolhida por unanimidade na Convenção da UDN local. Para tanto, contei com o fato do PSD ter lançado como candidato o sr. Ricardo Witte, pelo distrito de Massaranduba, pois quando emancipado em 1952, o município que anteriormente era o Distrito de Bananal, pertencente a Joinville, englobou os atuais municípios de Massaranduba, Schoerder e parte de Luis Alves.

          Tinha cerca de 3500 eleitores e sabia que mesmo que tivesse uma boa votação, seria insuficiente para eleger-me, pois os cálculos dos entendidos era que seriam necessários de 3.000 a 4.000 votos para ser eleito pela legenda da UDN.

          Foi então, sem me descuidar dos eleitores de Guaramirim que parti a caça de votos em todo o Estado. Levava a vantagem de ter meu sobrenome conhecido, pois meu pai tinha mais um ano de Governo o que me facilitava os contatos, sempre lembrado por ele, de não ferir todos os outros candidatos, seus amigos e corregilionários. Foi uma tarefa difícil e delicada.

          Em Lages, que era uma Arquidiocese, tinha um Bispo que se chamava Don Daniel Houstin, figura venerada pelos fiéis e amigo íntimo do Dr. Nereu Ramos, que era o grande líder da política catarinense, chefe maior do PSD e candidato ao Senado Federal. Era um homem sério, mas politicamente feroz. Adversário pessoal.

          Acontece que morando no Rio, minha crisma foi realizada na igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema cujo pároco que me crismou por coincidência, era o então padre Daniel Houstin. Em razão dessa ocorrência ele me chamava de afilhado e eu lhe tratava como padrinho.

          Apesar de adversários políticos, pois que sendo amigo íntimo do Dr. Nereu Ramos, era escancaradamente um militante do PSD, mantínhamos uma amistosa relação.

          Eu morava em Joinville e todas as vezes que vinha a Florianópolis ia nos visitar.

          Um mês antes das eleições apareceu lá em casa.

          Ivete lhe preparou um lanche e como sempre conversávamos sobre variados assuntos. Como fazia costumeiramente, terminado o lanche fui ao meu quarto buscar uma caixa de charutos Havana que lhe oferecia em todas as visitas, pois era um grande apreciador.

          Ao entregar-lhe, narrei as grandes dificuldades que estava enfrentando para poder me eleger e tomando coragem lhe falei:

          - “Padrinho, eu sei das suas vinculações com o PSD e da sua íntima amizade com o Dr. Nereu Ramos, que fiz alvo da minha campanha escrevendo seguidos artigos contundentes contra ele no jornal “A Gazeta” e que eram repelidos com a mesma virulência e sarcasmo pelo grande jornalista, Jú (Rubens de Arruda Ramos), pai dos meus queridos amigos, Paulo Costa Ramos e Sérgio Costa Ramos, o que me mantinha na mídia (naquela época havia algumas poucas rádios e jornais no Estado). Porém, principalmente porque não tendo passado político só podia ser atacado pelo “pecado” de ser filho do Governador. (Jú escrevia no “Estado” o melhor jornal e o mais lido em Santa Catarina. Ele foi o mais competente jornalista que tivemos)”.

          Neste ponto, ele me ouvia com atenção, embora mantivesse uma fisionomia sisuda.

Continuei:

          - “Padrinho, apesar de tudo isto, será que o padrinho não conseguiria uns votinhos em Lages para me ajudar?”

          Ele sorriu e carinhosamente com uma das mãos afagou minha cabeça e com alegria, surpreendentemente afirmou:

          - “Claro que posso.”

          Imediatamente, pedi licença, me levantei, fui ao meu quarto e enchi uma caixa de sapatos com as minhas cédulas. (As eleições naquela época eram feitas pelo depósito das cédulas nas urnas com o nome, e o cargo do candidato, que ele próprio mandava imprimi-las).

          Na caixa deveriam ter umas duas mil cédulas, pois sabia que muitas eram perdidas e rasgadas.

          Ao entregar-lhe me perguntou:

          - “Afilhado, quantos cédulas tem na caixa?”

          Respondi:

          - “Umas duas mil.”

          Ele imediatamente devolveu-me a caixa e me disse:

          “Faça um pacote, bem fechado com umas quinhentas cédulas. Não é que poderei transformá-las todas em votos, mas você pode contar com uns trezentos que vou conseguir com as minhas “filhas de Maria”, porém você tem que guardar absoluto sigilo, pelas razões que conhece bem.”

          Tomei as providências e a Ivete fez um pacote bem disfarçado com papel para presente e lhe entreguei.

          Despediu-se, beijei-lhe o anel do bispado, e agradeci antecipadamente o grande auxilio que iria me dar.

          - “Deus te abençoe.”

          Com essas palavras, foi embora.

          Eu estava radiante e no que partiu fui ao meu livrinho eleitoral, onde colocava a previsão dos votos que esperava receber em cada município e acrescentei 250 votos em Lages. Era uma grande ajuda, pensei comigo.

          Fim das eleições, foram iniciadas as apurações, que eram demoradas e tinham alguns critérios, entre eles a divulgação que começava pelas Comarcas mais próximas a Capital. Não sei até hoje a razão da Comarca de Jaraguá do Sul, onde se inseriam os votos de Guaramirim, seria a última, o que por certo, só iria me proporcionar saber se fôra ou não eleito, no final de toda a apuração.

          A medida que iam sendo divulgados os votos, eu e meus amigos Plínio Bueno, Machadinho e o Ormir Bezerra íamos anotando aqueles que recebera em cada município.

          Ansioso, liguei para o Cel. Simões, Chefe da Casa Militar do Governador, meu amigo, compadre e grande eleitor, e lhe perguntei sobre a apuração de Lages e ele me respondeu que seria divulgada como os ademais por ordem alfabética, por legenda partidária e que a apuração de Lages seria anunciada às 19 horas pela rádio Guarujá.

          A minha angustia e dos meus amigos era enorme, pois considerava que os votos que receberia em Lages seriam possivelmente decisivos para minha eleição. Não havia mais falado com o Don Daniel.

          Desde às 18 horas ficamos em volta do meu rádio de pilha, aguardando o momento inicial do anúncio. Como havia me assegurado o Cel. Simões, às 19 horas o locutor começou a enumerar os candidatos e as suas respectivas votações do município de Lages. Estava nervosíssimo, quando o locutor iniciou a pronunciar o meu nome:

          - “Paulo Konder Bornhausen, Zero votos!”

          Ficamos perplexos, decepcionados e confesso não acreditando no que ouvira, afinal tinha a palavra do Bispo.

          Ainda assim, risquei do mapa dos meus cálculos eleitorais o número de 250 votos que esperava em Lages.

          No fim das apurações com os votos de Guaramirim em que recebi mais de 2 mil, em pouco mais de 2.600 votantes, veio a consagração, ficando eu, o mais votado dos candidatos o Deputado Estadual da UDN.

          Dias depois de muitos festejos, recebi no meu escritório de advocacia que mantinha com o Plínio Bueno, um fonograma, que não me preocupei em abri-lo, pois tantos foram os que recebi cumprimentando-me pela vitória. Quando o abri nesta expectativa, fiquei impactado com os seus dizeres:

            -“Querido Afilhado, você tinha razão, estas eleições por cédulas são uma roubalheira. Desapareceram com todos os seus votos. Abraços do Padrinho Daniel Houstin.”

          Fiquei louco de raiva, nem ele o Dom Daniel, na verdade votara em mim. Que Deus me perdoe, pensei, este Bispo é um cretino.

          Porém, a euforia da vitória me fez logo esquecer a raiva momentânea. Afinal, fôra eleito e o mais bem votado.

          O meu consolo foi que a partir daí não iria mais gastar dinheiro na compra de charutos Havana, pois como esperava, nunca mais apareceu em minha casa.

          Como bom “jogador”, tratei de esquecer o “Blefe”, ainda que envergonhado, pois ambos cometemos “pecados”. Ele mentindo e eu acreditando na palavra do Bispo.




2 comentários:

  1. Artimanhas da política, e seu padrinho era de Gaspar. Abçs, Luiz.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Meu caro PKB,
      O Dom Daniel Hostins era gasparense e tio-avô da Ângela Amin...Conta a lenda que, metade da população de Lages à época fora crismada por ele. Por suas ligações com a família Ramos, tornara-se ainda mais influente. E que à época das eleições, seus afilhados vinham à sua porta, para saber em que candidato deveriam votar.
      Raposa felpuda, Dom Daniel saía pela tangente, com um conselho muito singular e apropriado: "Olha, meu filho, a Igreja não se mete em política; vai falar com o Vidalzinho" (Ramos Filho), cacique do PSD lageano.
      E tudo se ajeitava...




      Excluir