De lá para cá, o especialista vem anotando a classe sanguínea de muitos outros indivíduos com o distúrbio - e os dados colhidos são irrefutáveis. Além de relacionado a mais casos de trombose venosa, o grupo A+ associa-se a quadros severos dessa doença.
A partir daí, o médico resolveu descobrir o motivo por trás da evidência. "Portadores do A+ tendem a possuir índices elevados de fator VIII, uma molécula coagulante", observa Osse. Ou seja, esses sujeitos estariam propensos aos perigosos trombos. Para piorar, ao menos em tese o coágulo também poderia bloquear uma artéria que irriga o coração. "Por isso acredito que detentores de A+ também sofrem com uma maior suscetibilidade de se tornarem vítimas de um infarto", argumenta Osse.
Mas por que o sangue A+ seria, digamos, naturalmente viscoso? "Talvez partes do DNA que definem a que tipo pertencemos também provoquem esse efeito adverso", especula Lilian Castilho, bióloga do Centro de Hematologia e Hemoterapia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista.
Essa hipótese de que os genes responsáveis por um ou outro tipo do líquido vermelho influenciam funções do organismo fez com que o americano James D’Adamo criasse uma teoria bem controversa. "Cada grupo sanguíneo apresenta traços de personalidade únicos, assim como uma afinidade com alimentos específicos", defende. O naturopata inclusive elaborou uma dieta detalhada para cada sangue. E concebeu uma série de recomendações sobre como uma pessoa B+, por exemplo, deve agir para potencializar os pontos fortes mentais que detém, supostamente em razão do que carrega nas artérias. Será?
Desde os anos 1950, cientistas sugerem que o sangue influi no aparecimento de cânceres gástricos. Recentemente, o epidemiologista Gustav Edgren, do sueco Instituto Karolinska, resolveu tirar isso a limpo. Após investigar dados de mais de 1 milhão de doadores, ele conclui: "O grupo A realmente parece predisposto a desenvolver esse mal". A justificativa estaria, de novo, na genética. Porém, antes de tachar a primeira letra do alfabeto como sinônimo de azar, observe o que a bióloga Lilian Castilho acrescenta: "Existe um vínculo entre o H. pylori e o surgimento de úlceras que propiciam tumores gastrointestinais. E há evidências de que o tipo O está mais sujeito a infecções por essa bactéria".
Aliás, um dos temas muito estudados dentro desse assunto é justamente o possível impacto da classe de sangue na colonização de micróbios. Explica-se: como você perceberá nas próximas páginas, o A, o B e o AB possuem moléculas específicas na superfície de suas células. "E determinados parasitas se ligam a essas estruturas. É o caso do protozoário deflagrador da malária", avalia Lilian. Está aí o motivo pelo qual o O, que não possui esses ancoradouros, ofereceria proteção extra diante da enfermidade. Por outro lado, por alguma razão ele é vulnerável à invasão do micro-organismo que causa cólera e à do norovírus, incitador de gastroenterites.
Até a probabilidade de engravidar pode ter a ver com o sangue. No Colégio de Medicina Albert Einstein, nos Estados Unidos, a ginecologista Sangita Jindal percebeu que os ovários pertencentes a mulheres do tipo O contavam com uma reserva de óvulos diminuída. "Entretanto, é cedo demais para cravar qualquer coisa", adverte a autora.
Os experts temem divulgar tais informações por medo de gerar pânico. E pertencer a um grupo não implica necessariamente padecer com complicações ligadas a ele. Agora, conhecer as próprias vantagens e limitações - estejam elas dentro ou fora do sangue - é o passo inicial para se preparar e tirar o melhor de qualquer situação.
Polêmica em dose dupla
A forma de agir e de comer deveria ser regida segundo atributos do sangue?
Um cardápio diferente Quem é O se daria melhor ao ingerir proteínas aos montes. Já os donos de hemácias A sairiam ganhando ao investir nos vegetais e fugir de quaisquer produtos lácteos. E por aí vai. "Não há nenhuma prova científica de que a dieta do tipo sanguíneo funciona", diz Gustav Edgren, epidemiologista do Instituto Karolinska, na Suécia.
Personalidade na veia "O grupo B é resiliente. O AB, carismático. Já o O tende a ser dominante, enquanto o A é sensível", resume Sérgio Ricardo, especialista em gestão comportamental. "Isso é achismo. Ninguém fez uma pesquisa séria para verificar se existe fundamento", contrapõe a bióloga Lilian Castilho, da Unicamp.
O que seu tipo tem
De estudos a mera falação, saiba quais encrencas já foram associadas a ele e o que o difere dos demais
Tipo A
Pesquisas mostram que:
* Ele aumenta o risco de tumores gástricos, infecções pelo protozoário da malária e até eventos cardiovasculares.
* Seus portadores estão mais protegidos contra cólera e o norovírus, causador de úlceras no estômago.
Já foi dito que:
* As mulheres A seriam mais férteis.
* Os integrantes do grupo possuiriam uma predisposição ao diabete e à depressão.
* A letra é indicativo de um sistema imunológico frágil.
Tipo B
Pesquisas mostram que:
* O câncer de ovário incidiria com maior frequência entre as detentoras dessa espécie sanguínea. O de pâncreas ameaça ambos os sexos.
* Como o A, o grupo B deve tomar cuidado com a malária.
Já foi dito que:
* O cérebro em que circula esse sangue teria propensão elevada a demências e esclerose múltipla.
* Na contramão, a mente desses sujeitos resistiria com especial eficiência ao estresse…
Tipo AB
Pesquisas mostram que:
* Cânceres de ovário e de pâncreas poderiam ser mais comuns entre esse pessoal, assim como no da letra B.
* A bactéria que propaga a cólera aparentemente causa menos estragos nessa turma.
Já foi dito que:
* As gestantes correriam risco de ter pré-eclâmpsia.
* Problemas de pele como a psoríase acometeriam mais gente do tipo AB.
* Esse sangue supostamente favorece a anemia.
Tipo O
Pesquisas mostram que:
* Ele resguarda contra a formação de coágulos e ataques cardíacos em geral.
* A bactéria H. pylori provoca mais lesões no sistema gástrico de integrantes do grupo.
* As mulheres teriam uma reserva ovariana menor.
Já foi dito que:
* Quem é O teria dificuldades para se manter no peso.
* A hipertensão abala em especial os vasos dessa população.
* Esse tipo propicia uma defesa imune forte para debelar micróbios nocivos.
Fonte do infográfico: Carmen Nogueira, especialista em medicina transfusional e chefe do serviço de hemoterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fonte dos dados: Organização Mundial da Saúde. Ilustrações Otávio Silveira.
saude abril
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