Rabanada com calda do restaurante A Bela Sintra
No território nacional, porém, esses doces feitos com pão envelhecido, embebido em leite, passado em ovos, frito e polvilhado com açúcar e canela, foram popularizados como rabanadas. E, ao espelho da Europa, elas são consumidas principalmente nas festividades natalinas.
Do outro lado do Atlântico, até dá para entender: são quitutes extremamente calóricos e energéticos que compõem bem a mesa nos gélidos Natais. Aqui, no alto verão, trata-se de uma tradição assimilada.
Conta uma lenda, relembrada pela chef Beth Branco, que as rabanadas passaram a representar fartura e prosperidade depois que uma mulher pobre, que tinha apenas pães velhos e galinhas em seu quintal, alimentou-se com a receita --que lhe rendeu leite, até então escasso, para suprir também a fome de seu filho recém-nascido.
APROVEITAMENTO
A rabanada nasce num contexto em que se constroem diferentes processos de aproveitamento do pão.
Na receita original da portuguesa Ilda Vinagre, que a trouxe do norte de seu país para reproduzi-la no restaurante A Bela Sintra, de mesma nacionalidade, o doce é finalizado com uma calda açucarada de vinho do Porto e mel, com toque de canela e cascas de limão (veja receita abaixo). "Ela resiste até três dias, pois fica embebida nesse xarope que a conserva", diz Ilda.
Já na versão abrasileirada de Jorge Amado (1912-2001), escritor baiano que nasceu em uma fazenda de cacau e tratou de fazer registros gastronômicos em boa parte de sua obra, a receita substitui o leite de vaca por leite de coco.
Certa vez, em um Natal em Paris, ele pediu à sua mulher, Zélia Gattai, que fizesse rabanadas para presentear o dono de uma frutaria da esquina da rue Saint Paul.
Quando seu Romero bateu o olho nos doces, exclamou: "C'est du pain perdu" [isso é pain perdu]. Mas, não, contam os relatos da filha do autor, em "A Comida Baiana de Jorge Amado". Eram fatias de pão amanhecido, de receita inspirada nas tais fatias de parida, nas fatias douradas, nos pains perdus...
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