Atkins
Lançada em 1972 e pouco modificada 20 anos depois, a dieta do cardiologista Robert Atkins corta os carboidratos e obriga o corpo a trocar a glicose pela gordura como fonte de "combustível". Segundo o médico, a ingestão de carboidratos estimula o aumento de insulina, responsável pelo acúmulo de gordura no corpo, excesso de apetite, retenção de água e elevação das taxas de triglicérides, favorecendo as doenças cardiovasculares.
"Os argumentos do dr. Atkins têm fundamento, mas são incompletos", observa a nutricionista Tânia Rodrigues, professora de pós-graduação na Universidade de São Paulo e Universidade Federal de São Paulo. "Hoje se sabe que a produção excessiva de insulina se relaciona ao consumo de carboidratos de rápida absorção, como o de alimentos feitos com açúcar e/ou farinha refinados ou de vegetais ricos em amido, como a batata e o arroz branco. O açúcar de frutas e legumes, por exemplo, não tem esse efeito nocivo", argumenta.
Durante os 14 dias iniciais do regime você pode comer apenas queijos (inclusive os amarelos, mais gordos), leite sem lactose, ovos, vegetais folhosos e carne de todos os tipos, incluindo as gordurosas e até toucinhos. Para compensar a carência nutricional, o dr. Atkins recomenda suplementos vitamínicos e minerais. Depois, o consumo de carboidratos aumenta gradativamente até 45 g diárias. Finalmente, na chamada fase de manutenção, que deve durar a vida toda, a ingestão de carboidratos não pode ultrapassar 60 g diárias - sorvetes, chocolates e outras guloseimas açucaradas continuam proibidos.
benefícios
Além de diminuir o risco de doenças como a diabetes e a síndrome metabólica causada pelo excesso de produção de insulina, a dieta de Atkins ajuda a baixar os níveis de triglicérides, responsáveis por várias doenças cardiovasculares. Estudo realizado em 2003 pelo Weight and Eating Disorders Program, da Universidade da Pensilvânia (EUA), com 63 homens e mulheres obesos concluiu que o regime aumentou em 11% as taxas de HDL (ou "bom" colesterol) e reduziu a quantidade de triglicérides na corrente sangüínea em 17%.
malefícios
Segundo a nutricionista Luciana Setaro, ao permitir o livre consumo de carnes gordas, ovos e queijos amarelos, a dieta de Atkins pode aumentar rapidamente os níveis de colesterol, o que pode levar ao entupimento dos vasos e causar doenças cardiovasculares. "Esse aumento acontece já no primeiro mês da dieta e recuperar os níveis anteriores pode demorar", alerta Luciana.
Uma pesquisa da Universidade de Oxford, na Grã- Bretanha, avaliou um grupo de pessoas que passou duas semanas submetidas a uma restrição alimentar rica em gordura e pobre em carboidratos e concluiu que elas sofreram uma redução média de 16% na energia cardíaca, se comparadas com o grupo que seguiu uma dieta normal. Para a Fundação Britânica do Coração, o resultado reforça a idéia de que não são aconselhados regimes ricos em gordura e pobres em carboidratos. A ingestão excessiva de proteína animal favorece o aparecimento de osteoporose e da gota, que deixa as articulações grossas e doloridas.
"Não acredito que alguém mantenha a Atkins por mais de um mês", diz Tânia Rodrigues. É que já na primeira semana, o organismo passa a produzir um "lixinho" para queimar essa gordura: os chamados corpos cetônicos, que todo mundo produz enquanto dorme. É quando o corpo vai buscar a gordura do sangue para ter energia enquanto repousa. Ao acordar sentimos, principalmente no hálito, o odor cetônico. Se a energia não é fornecida pela dieta, o organismo passa a produzí-la através da gordura e gera corpos cetônicos o dia todo. Além de mau-hálito, o excesso deles causa mal-estar, dor de cabeça, perda de concentração, irritabilidade e até desmaios. Além de cãibras e fraqueza muscular", diz Luciana Setaro".
Se a teoria do dr. Atkins fosse correta, os japoneses seriam gordos, uma vez que sua dieta é pobre em gordura e rica em arroz (carboidrato). O Japão, no entanto, tem uma das taxas de obesidade mais baixas do mundo.
Estudos feitos na Universidade de Kansas (EUA) revelaram um dos possíveis segredos do sucesso da dieta de Atkins: a ingestão excessiva de proteínas pode inibir o apetite, fazendo com que a pessoa consuma menos calorias do que antes. "A verdade é que a pessoa come menos e, por isso, emagrece", explica o pesquisador Joe Millward, da Universidade de Surrey, na Grã-Bretanha.
Menos água no organismo
Robert Atkins afirmava que a perda de gordura se dá pela restrição de carboidrato, mas o que se sabe hoje é que o mecanismo fisiológico da dieta faz perder peso pela redução de glicogênio e água nas fibras musculares. "É um emagrecimento ilusório, já que não ocorre perda real de gordura, mas de água e massa magra", diz Luciana Setaro.
Um percentual reduzido de indivíduos cujo metabolismo é sensível ao carboidrato pode ficar satisfeito com a dieta. "A eliminação acontece por desidratação em 80% das pessoas", observa Tânia Rodrigues. "Está comprovado cientificamente que nos cinco primeiros dias, 90% do peso perdido é de água. A gordura corporal localizada continua lá, embora o peso tenha diminuído. A gordura demora mais para ser eliminada: o ritmo é de 1 kg por semana", complementa a nutricionista Tânia.
E não adianta beber água para repor as reservas porque a água não penetra nas fibras musculares sem o carboidrato (que vira glicogênio no organismo). "Ao fim de uma semana a pessoa terá menos açúcar no sangue, menos sal (que retém água no corpo) e terá perdido 2 ou 3 kg de água achando que perdeu gordura" finaliza.
Outro risco da dieta de Atkins é o efeito sanfona. "Se você a interrompe e volta a comer como antes, a tendência é ficar até mais gorda", adverte Luciana Setaro. Muita gente ganha quase o dobro do peso que perdeu. Isso acontece devido ao aumento na quantidade de armazenagem de glicogênio e água no fígado e nos músculos. "Quando a pessoa volta a comer como antes da dieta é normal que o estoque de glicogênio seja duplicado para compensar a perda. Por isso, ela engorda rapidamente. Então, o efeito é paradoxal, porque você elimina peso em forma de massa magra, mas pode ganhar o dobro depois", completa Luciana.
LUCIANA SETARO, NUTRICIONISTA, ESPECIALISTA EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO, MESTRE EM NUTRIÇÃO HUMANA PELA USP, DOUTORANDA EM CIÊNCIAS DO ALIMENTOS, PELA USP, PROFESSORA DA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI. TÂNIA RODRIGUES, NUTRICIONISTA DA RG NUTRI, ESPECIALISTA EM FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E NUTRIÇÃO ESPORTIVA, PROFESSORA DE PÓS-GRADUAÇÃO NA USP, UNIFESP
fonte : revista dieta
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