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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Em artigo, especialista em ozonioterapia defende uso do gás na medicina


Quando se fala em ozônio, podemos dividir as pessoas em dois grupos: os “ambientalistas”, preocupados com o buraco na camada de ozônio, e os  “toxicologistas”, que se preocupam com os efeitos adversos do gás no ar que respiramos, gerado como produto da poluição ambiental. A boa nova é que está surgindo no Brasil uma terceira categoria: os “ozonioterapeutas”. Este novo grupo congrega médicos, enfermeiros, biomédicos, farmacêuticos, dentistas, engenheiros e, pasmem, veterinários! O ponto em comum entre todos esses profissionais é uma verdadeira paixão por pesquisar e aplicar com fins de melhoria da saúde humana e animal um gás pra lá de polêmico, o “ozônio medicinal”.

O dito “ozônio medicinal” não é só ozônio. É uma mistura gasosa, que tem no máximo 5% de ozônio e 95% de oxigênio. Essa mistura especialíssima precisa ser produzida por equipamentos chamados geradores de ozônio medicinal, que são capazes de gerar uma descarga elétrica de até 15.000 volts e aplicá-la no oxigênio puro medicinal (que tem 2 átomos de oxigênio), dissociando-o e fazendo surgir o ozônio (uma molécula de oxigênio unida a 1 átomo do mesmo gás). O ozônio medicinal não é patenteável, pois nada que exista na natureza pode ser. O ozônio medicinal também não pode ser engarrafado para uso posterior, pois precisa ser produzido no momento da aplicação, durando cerca de 30 minutos em temperatura ambiente. O gás é então aplicado por div ersas vias, a depender da indicação clínica, sendo a prática conhecida como Ozonioterapia.
O gás ozônio é considerado o terceiro agente mais oxidante da face da terra, sendo essa sua característica a responsável por seus efeitos microbicidas contra bactérias, vírus e fungos. E o qual é a importância da oxidação? Basta observar uma barra de ferro exposta a céu aberto para sentir o que é enferrujar, ou seja, oxidar e ... envelhecer! Nós, seres vivos, oxidamos e envelhecemos todos os dias, a partir do oxigênio que respiramos, dentre outros mecanismos envolvidos. Cerca de 2 a 5% do oxigênio que inalamos a cada inspiração acaba gerando os famosos “radicais livres”, que são partículas altamente instáveis e reativas, que oxidam o que encontram pela frente. Hoje já se conhecem mais de 200 doenças em que o excesso de radicais livres, conhecido c omo estresse oxidativo, está envolvido na origem do processo de adoecimento. Neste grupo estão as doenças degenerativas crônicas – principalmente as que mais matam, que são as que atacam o coração e os vasos sangüíneos, por meio da ateroesclerose (depósito de colesterol nas artérias, que se entopem progressivamente), desencadeando doenças como o infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais (derrames) e problemas circulatórios, em especial das pernas.
Ao falar de doenças relacionadas aos radicais livres, também não podemos deixar de mencionar as reumáticas, seja na sua forma aguda – a artrite reumatóide, por exemplo – seja na sua forma crônica, degenerativa e incapacitante – a artrose. Doença de Parkinson, Alzheimer, demência senil, enfisema pulmonar, diabetes mellitus, hipertensão arterial, catarata, degeneração da mácula ocular, fibrose hepática, glomerulonefrite, pancreatite, diversos tipos de câncer, envelhecimento acelerado da pele – a lista de doenças associadas aos radicais livres segue crescendo a cada dia!
Paradoxo a ser resolvido: como é que um gás oxidante pode servir para proteger de doenças em que na base existe um excesso de oxidação? É preciso saber que os organismos vivos mais desenvolvidos (dentre os quais incluímos os seres humanos) possuem o chamado sistema antioxidante, que é formado por enzimas intracelulares (com nomes complexos como superóxido dismutase, glutationa peroxidase e catalase) e por substâncias presentes no sangue e nos tecidos (algumas vitaminas – A, complexo B, C e E por exemplo – e alguns minerais e nutrientes). O conteúdo da enzima superóxido dismutase é relacionado à maior longevidade potencial do Homem em relação aos outros animais.
Um dos mais novos conceitos da Farmacologia moderna, a hormése, ajuda a explicar as ações terapêuticas da Ozonioterapia, O termo hormése, originalmente aplicado por Paracelso, um dos maiores cientistas do século 16, vêm sendo reestudado e explica a indução de efeitos benéficos à saúde devido à presença e o contato com baixas doses de agentes que são tóxicos em concentrações mais elevadas (resposta adaptativa). Assim, agentes estressores externos leves provocam uma regulação para cima da rede antioxidante interna do organismo. Tal observação também se aplica aos fitoquímicos (polifenóis) e explica os efeitos benéficos de dietas ricas em frutas e vegetais.  De forma semelhante, a Ozonioterapia realizada com s egurança, dentre outras ações, induz um estresse oxidativo leve e controlado, que promove o aumento das enzimas de proteção do sistema antioxidante intracelular a médio e longo prazo.  Paracelso já dizia: a única diferença entre o veneno e o remédio está na dose. Isso vale para o ozônio medicinal.
Além desse efeito mais que oportuno (afinal, quem não precisa de uma proteçãozinha extra contra o excesso de estresse oxidativo de todos os dias?...), o ozônio medicinal é capaz de regular a resposta inflamatória e de otimizar a resposta imunológica, mexendo no sistema de comunicação entre as células. Como se não bastasse, ainda é capaz de melhorar as condições circulatórias e de oxigenação, uma vez que faz com que as células vermelhas do sangue fiquem mais flexíveis e menos ávidas por manter o oxigênio dentro delas, o que as torna mais capazes de liberar os subprodutos do ozônio medicinal (as ozonides) nos tecidos.
Há cerca de 60 anos, a Ozonioterapia tópica e sistêmica tem sido aplicada no mundo todo para tratamento de doenças infecciosas, vasculares, relacionadas à imunodepressão, degenerativas e ortopédicas, tais como: feridas crônicas e infectadas, queimaduras, pé diabético, úlceras varicosas, hérnias discais, dores crônicas, acidentes vasculares, hepatites crônicas, infecções por herpes de difícil controle, diarréias infecciosas, doenças inflamatórias intestinais e reumáticas, dentre outras.
A Ozonioterapia é um método terapêutico que há várias décadas vem sendo estudado, pesquisado e aplicado em diferentes países, tendo sido reconhecido por várias renomadas instituições de saúde do mundo, tendo ultrapassado o estágio de método experimental e que, pelos resultados que vem apresentando, merece a devida atenção no nosso meio. A ação germicida do ozônio medicinal é conhecida há mais de um século. Suas propriedades cicatrizantes já eram aplicadas na primeira guerra mundial, para tratamento de feridas de amputações de membros. Recentemente pesquisadores da Universidade de São Paulo demonstraram que o gás ozônio foi capaz de inativar completamente a superbactéria  KPC, fato esse de suma potencial importância no controle das infecções hospitalares. A Ozonioterapia, em função de suas propriedades virustáticas, de modulação inflamatória e imunológica e de melhoria das condições circulatórias e de oxigenação tecidual, vem sendo aplicada em várias patologias com impacto epidemiológico, de modo isolado ou complementar. As concentrações e modo de aplicação variam de acordo com a afecção a ser tratada, já que a concentração de ozônio medicinal determina o tipo de efeito biológico e o modo de aplicação relaciona-se à sua ação no organismo.
Desde a década de 50 do século passado, diversos centros universitários da Europa – Alemanha, Itália, Espanha, Suíça, Grécia –, Rússia, Polônia, Egito, Japão, Coréia e Cuba começaram a investigar os efeitos fisiológicos do ozônio no organismo e hospitais universitários e privados iniciaram estudos controlados da eficácia da Ozonioterapia. Pouco a pouco os sistemas sanitários vêm autorizando e regulamentando a aplicação da Ozonioterapia na Medicina convencional, que também é praticada em 15 estados dos Estados Unidos da América. Os seguros médicos inclusive reembolsam os procedimentos de Ozonioterapia em vários desses países. Vale lembrar que a Ozonioterapia faz parte dos tratamentos pagos pelos seguros-saúde na Alemanha desde a década de 1980, o que representa uma forma muito séria de reconhecim ento do método. Aproximadamente 50.000 médicos utilizam este método na mundo atualmente e somente na Alemanha são realizados sete milhões de tratamentos todos os anos. Na Rússia, a Ozonioterapia é utilizada em todos os Hospitais Governamentais. Cuba, por exemplo, conta com 39 Centros Médicos Clínicos de Ozonioterapia dentro de seus maiores hospitais, tendo incorporado a terapia nas suas rotinas de atendimento desde 1986. Nesses centros médicos são aplicados, investigados e documentados todos os aspectos relativos ao método.  Nas últimas duas décadas, foram produzidos em Cuba um grande número de trabalhos sobre a Ozonioterapia, com rigor científico e publicados em revistas indexadas, coordenados pelo C entro de Investigaciones del Ozono localizado em Havana.
Falando de números e da segurança da Ozonioterapia: a Sociedade Médica Alemã de Ozonioterapia elaborou um estudo, na década de 1980, com a participação de 644 médicos praticantes de Ozonioterapia, envolvendo 384.775 doentes, em que foram realizados 5.579.238 tratamentos. Somente 40 casos com efeitos colaterais foram observados, sendo a Ozonioterapia considerada, desde então, uma das mais seguras terapias médicas (0,0007% de risco)! Além disso, desde 2002, pesquisadores americanos, em artigo publicado na Science, uma conceituada revista científica, demonstraram que os neutrófilos, células do sistema imunológico, fabricam ozônio durante o processo de defesa do organismo. As contra-indicações da Ozonioterapia são poucas: deficiência de G6PD (uma enzima), anemia muito intensa, hipertensão arterial e hipertire oidismo descompensados - e após a correção dessas últimas três situações, pode ser utilizada. Os efeitos colaterais são mínimos: dor pela picada da agulha e sensação de queimação transitórias (dura segundos) na local da injeção, gases (no caso de insuflação via retal do gás),  hipotensão ortostática (queda da pressão arterial ao levantar rápido), hipoglicemia transitória (queda da taxa de açúcar no sangue). Existem apenas 4 casos de óbito descritos na literatura médica até hoje, associados à injeção inadvertida de grandes volumes do gás.
O Ministério da Saúde do Egito atualmente recomenda a Ozonioterapia para tratamento de hepatite C - no Egito o vírus mais frequente é resistente à ação da drogas habitualmente empregadas, a ribavirina e o interferon. Além dos resultados animadores (controle da carga viral em até 70% dos casos, com negativação completa em 38% após 6 meses de tratamento), trata-se de alternativa mais econômica e com efeitos colaterais mínimos, se bem aplicada.  A Organização Mundial da Saúde estima que existam cerca de 325 milhões de portadores crônicos de hepatite B e 170 milhões da hepatite C no mundo, sendo 2 milhões da hepatite B e 3 milhões para hepatite C no Brasil. No entanto ainda existe uma grande subnotificação dos casos no sistema de notificação do Ministério da Saúde (Sinan). Em 2004 foram gastos 206 mi lhões de reais no atendimento diferenciado a apenas 5 mil pacientes (0,125% dos casos). É fácil imaginar quanto a Ozonioterapia pode ser útil ao nosso País, só considerando as hepatites crônicas, por exemplo.
Outra doença em que se aplica a Ozonioterapia com excelentes resultados é a hérnia discal. Na Itália, por exemplo, a técnica vem sendo recomendada antes das cirurgias de coluna. Vale ainda mencionar a utilização complementar da Ozonioterapia no Diabetes Mellitus, principalmente para controle mais eficaz dos níveis de glicose no sangue, para diminuir o tempo e o custo de internações hospitalares e para evitar amputações decorrentes de complicações observadas no chamado "pé diabético". A eficácia da Ozonioterapia no tratamento de feridas se deve a sua capacidade de estimular a liberação de fatores de crescimento para as células, melhorar a oxigenação do sangue e conseguentemente o metabolismo da glicose, corrigir o estresse oxidativo (causa de grande parte do dano tecidual), além das ações bactericida, virustática e fungicida.
No Brasil, apesar de praticada por um contigente crescente de médicos há cerca de 35 anos, ainda inexiste a regulamentação da Ozonioterapia e falta uma legislação específica em relação aos equipamentos geradores de ozônio medicinal, o que gera uma situação de “irregularidade”. Os médicos que a praticam podem ser repreendidos e penalizados pelos Conselhos de Medicina. No entanto, há alguns anos, quando o Dr. Zerbini realizou o primeiro transplante cardíaco, também não havia regulamentação específica para tal prática. O primeiro transplante de rim, realizado pelo Prof. Geraldo de Campos Freire, também ocorreu quando o Brasil não tinha lei que regulamentava os transplantes. E hoje ninguém contesta o pioneirismo desses médicos geniais e a utilidade dos transplantes!
Outro paradoxo: o Brasil (e todos os seus médicos) é signatário da Declaração de Helsinki V, publicada pela Associação Médica Mundial (1964 – 1996). Seguem um trecho da referida declaração: “È missão do médico salvaguardar a saúde do povo. O conhecimento e consciência dele ou dela são devotados ao cumprimento desta missão. O médico deve ser livre para usar novo método de diagnóstico ou terapia no tratamento de pessoas doentes se, de acordo com o seu julgamento, este novo método trouxer a esperança de salvar a vida, restabelecer a saúde ou aliviar o sofrimento. “.
Há ainda para apoiar o reconhecimento da Ozonioterapia dentro dos procedimentos médicos ditos “oficiais”, duas terapias, tidas anteriormente como “terapias alternativas” e sem seguras bases científicas, que hoje se encontram regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), após comprovados os benefícios que a sua utilização pode trazer aos doentes, se corretamente aplicadas: a Homeopatia e a Acupuntura. A Acupuntura, prática utilizada por mais de um bilhão de pessoas há mais de cinco mil anos, foi expressamente proibida pelo CFM durante décadas, por não ter respaldo “científico”.  Somente no fim dos anos 90 é que foi aceita, e hoje faz parte até de serviços médicos oferecidos no SUS, inclusive na qualidade de esp ecialidade médica. A Homeopatia, conceito e método introduzido por Samuel Hahnemann há cerca de 180 anos e largamente utilizado por milhares de médicos no mundo todo, foi reconhecida pelo CFM há poucos anos, isto é, permitida como prática médica aos médicos brasileiros e alçada ao status de especialidade médica.  O Ministério da Saúde incluiu ambas especialidades na sua “Política nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares – PMNPC”, já aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde desde 2006.
No Brasil, a Associação Brasileira de Ozonioterapia (www.aboz.com.br) reúne atualmente cerca de 200 profissionais ozonioterapeutas. Há cinco anos, a ABOZ vem trabalhando junto aos órgãos competentes e nas mais diversas frentes para que a prática da Ozonioterapia seja reconhecida formalmente dentro do arsenal terapêutico médico brasileiro. A ABOZ orienta os seus associados a utilizar o Termo de Consentimento Informado para Tratamento Médico com Ozônio Medicinal (Ozonioterapia), esclarecendo os pacientes sobre a atual situação da prática no Brasil.
Mensagem final: a Ozonioterapia é um procedimento de baixo risco, aplicado geralmente como um método complementar, aditivo ou restaurativo, isto é, em associação aos tratamentos médicos habituais. É uma terapia natural, com poucas contra-indicações e efeitos secundários mínimos, quando indicada e realizada e/ou orientada corretamente, por profissional médico, com formação adequada, assim como qualquer ato médico. É ainda um procedimento extremamente promissor pelo seu baixo custo de investimento e manutenção, facilidade de aplicação e resultados clínicos, apresentando grande potencial de utilização em benefício da Saúde Pública no Brasil.
A Medicina, como a ciência em geral, está constantemente evoluindo, aperfeiçoando-se, modificando-se. Arthur Schopenhauer, filósofo alemão (1788 - 1860), disse: “Toda verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente contestada. Terceiro, é finalmente aceita como sendo óbvia.” Você, querido leitor, informe-se sobre os benefícios da Ozonioterapia para sua saúde e converse com seu médico sobre esse assunto. A regulamentação da Ozonioterapia e dos equipamentos gerad ores de ozônio medicinal pelo Ministério da Saúde, ANVISA e Conselho Federal de Medicina, se faz urgente e necessária, pois não irá se apresentar somente como mais uma alternativa terapêutica a ser oferecida, mas, principalmente, irá oferecê-la de modo seguro, através do estabelecimento de normas e condutas para a sua utilização, bem como através da constante formação, capacitação e habilitação de profissionais com a devida observância e respeito aos preceitos técnicos e éticos estabelecidos. O reconhecimento da Ozonioterapia como um procedimento médico beneficiará um enorme contingente de doentes em todo o Brasil, aliviando sofrimentos, melhorando a qualidade de vida e enxugando os custos. Fora ferrugem!  Ozonioterapia já!
Maria Emilia Gadelha Serra, médica, otorrinolaringologista, com formação complementar em Medicina Biológica Alemã e Ozonioterapia. Ex-Diretora Presidente e atual Diretora secretária da Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ), emilia.gadelha@uol.com.br

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde.
    Por favor, gostaria de saber se há algum especialista em Florianópolis que utiliza a técnica.
    Obrigada (:

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