Uma tecnologia que combina ultrassom de alta intensidade a ressonância magnética promete destruir tumores sem a necessidade de cirurgia nem internação
por Diogo Sponchiato • ilustração Índio San
O ultrassom entrou para a história como um grande provedor de diagnósticos. O conceito, se resumirmos bem, é simples: ondas de som emitidas por um aparelho batem em um tecido do organismo e voltam, gerando imagens em um monitor. Vai um exemplo corriqueiro: o médico recorre ao método para inspecionar se está tudo em ordem dentro do abdômen. Pouca gente sabe, porém, que, quando focado em alta intensidade em um único ponto do corpo, ele é capaz de cozinhá-lo. Aproveitando-se desse poder de fogo, já consagrado no combate a miomas uterinos, que são um tipo de tumor benigno, o ultrassom agora é convocado para entrar na guerra ao câncer.
Trata-se do ExAblate, sistema desenvolvido por uma empresa israelense que hoje está sob a guarda da americana General Electric (GE). Ele alia um potente ultrassom a um tubo de ressonância magnética, cuja função é visualizar com detalhes onde mora o problema. "São ondas 20 mil vezes mais intensas do que aquelas liberadas pela ultrassonografia convencional", compara Marcos Menezes, coordenador do Serviço de Radiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, primeiro hospital do país a empregar o procedimento contra tumores malignos em caráter de pesquisa.
Menezes e sua equipe começaram a avaliá- lo em pacientes com metástase óssea, ou seja, quando um câncer originário de algum canto do corpo -- do pulmão, por exemplo -- se espalha e atinge outras regiões, como o esqueleto. "É uma tecnologia precisa, que elimina focos da metástase e, assim, ajuda a controlar sintomas como a dor", diz o radiologista. Nesse caso, o objetivo não é promover a cura, dificilmente alcançada quando a doença se esparrama, mas devolver qualidade de vida sem infligir mais sofrimento.
Quando direcionado à lesão no osso, o ExAblate ainda provoca um vantajoso efeito colateral. "Como o tecido ósseo absorve bastante as ondas de ultrassom, há um aumento na calcificação, o que deixa a região mais fortalecida", conta Eduardo Gomes, diretor da Área de Ressonância Magnética da GE para a América Latina. É um tremendo benefício se pensarmos que, na metástase óssea, as peças do esqueleto tomadas pelo tumor ficam suscetíveis a fraturas.
A proeza do ExAblate é destruir o tumor — ou um foco de metástase — sem a necessidade de cirurgia e internação. O indivíduo é sedado para evitar possíveis desconfortos durante a sessão e tudo dura entre duas e três horas. "A ideia é que a pessoa volte para casa algumas horas depois do procedimento", pontua Gomes. E a rapidez, por assim dizer, vem se somar à segurança. "É um método não invasivo, feito de forma controlada, cuja energia emitida não traz riscos à saúde", destaca Menezes.
Essas qualidades ajudam a entender por que a tecnologia já está sendo testada em casos de câncer de mama e próstata fora do país — com boas perspectivas, diga-se. O ExAblate pertence, na verdade, a uma tendência na medicina que busca terapias menos agressivas, sobretudo para quem vivencia o trauma físico e psicológico de um câncer. "A técnica ainda é experimental, mas, se demonstrar eficácia, poderá ser uma alternativa, em alguns casos, à cirurgia ou à radioterapia", opina o oncologista Fernando Maluf, do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo.
Se para o câncer o tratamento ainda passa pelas provas da ciência, o mesmo não se pode dizer da sua atuação contra miomas, aqueles tumores benignos no útero. Nessa disciplina, o procedimento recebeu notas tão altas que já é usado rotineiramente. No Brasil, o pioneirismo é do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, no Rio de Janeiro, que contabiliza cerca de 80 casos resolvidos assim. "Quando bem indicada, a terapia rende bons resultados no controle de sintomas como sangramento excessivo", conta a radiologista Fernanda Melo, da Rede D’Or. Não à toa, planos de saúde começam a incluí-la em seu rol de cobertura.
Voltando a falar de futuro — e de câncer —, as expectativas de aplicação não se resumem a osso, mama e próstata. Há estudos iniciais com lesões no fígado e, agora, até tumores cerebrais andam na mira do ultrassom de alta potência. Por enquanto, o ExAblate aguarda a aprovação das agências reguladoras, em especial a americana, que funciona como um termômetro para suas congêneres no resto do mundo. Se ele continuar na trilha do sucesso e receber esse aval, teremos felizmente mais uma arma para torrar a mais ardilosa das doenças.
Hora de fritar tumores
Entenda como funciona o método que ataca o câncer por meio de ondas de som
1) Dentro da máquina
O paciente é deitado sobre uma maca em cima do aparelho de ultrassom, direcionado à região do corpo afetada pelo câncer. Ele é sedado e levado para dentro do tubo de ressonância magnética.
2) Mapeando o ataque
A ressonância magnética permite que, fora da sala, o médico visualize em um computador imagens em alta resolução do epicentro do problema. É feita uma projeção dos pontos que serão destruídos pelo ultrassom.
3) Tiro certeiro
O médico seleciona os alvos e dispara o ultrassom, que aquece o local a uma temperatura acima de 60 graus centígrados. Isso provoca a morte do tecido doente, que necrosa, sem atingir a área saudável
Trata-se do ExAblate, sistema desenvolvido por uma empresa israelense que hoje está sob a guarda da americana General Electric (GE). Ele alia um potente ultrassom a um tubo de ressonância magnética, cuja função é visualizar com detalhes onde mora o problema. "São ondas 20 mil vezes mais intensas do que aquelas liberadas pela ultrassonografia convencional", compara Marcos Menezes, coordenador do Serviço de Radiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, primeiro hospital do país a empregar o procedimento contra tumores malignos em caráter de pesquisa.
Menezes e sua equipe começaram a avaliá- lo em pacientes com metástase óssea, ou seja, quando um câncer originário de algum canto do corpo -- do pulmão, por exemplo -- se espalha e atinge outras regiões, como o esqueleto. "É uma tecnologia precisa, que elimina focos da metástase e, assim, ajuda a controlar sintomas como a dor", diz o radiologista. Nesse caso, o objetivo não é promover a cura, dificilmente alcançada quando a doença se esparrama, mas devolver qualidade de vida sem infligir mais sofrimento.
Quando direcionado à lesão no osso, o ExAblate ainda provoca um vantajoso efeito colateral. "Como o tecido ósseo absorve bastante as ondas de ultrassom, há um aumento na calcificação, o que deixa a região mais fortalecida", conta Eduardo Gomes, diretor da Área de Ressonância Magnética da GE para a América Latina. É um tremendo benefício se pensarmos que, na metástase óssea, as peças do esqueleto tomadas pelo tumor ficam suscetíveis a fraturas.
A proeza do ExAblate é destruir o tumor — ou um foco de metástase — sem a necessidade de cirurgia e internação. O indivíduo é sedado para evitar possíveis desconfortos durante a sessão e tudo dura entre duas e três horas. "A ideia é que a pessoa volte para casa algumas horas depois do procedimento", pontua Gomes. E a rapidez, por assim dizer, vem se somar à segurança. "É um método não invasivo, feito de forma controlada, cuja energia emitida não traz riscos à saúde", destaca Menezes.
Essas qualidades ajudam a entender por que a tecnologia já está sendo testada em casos de câncer de mama e próstata fora do país — com boas perspectivas, diga-se. O ExAblate pertence, na verdade, a uma tendência na medicina que busca terapias menos agressivas, sobretudo para quem vivencia o trauma físico e psicológico de um câncer. "A técnica ainda é experimental, mas, se demonstrar eficácia, poderá ser uma alternativa, em alguns casos, à cirurgia ou à radioterapia", opina o oncologista Fernando Maluf, do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo.
Se para o câncer o tratamento ainda passa pelas provas da ciência, o mesmo não se pode dizer da sua atuação contra miomas, aqueles tumores benignos no útero. Nessa disciplina, o procedimento recebeu notas tão altas que já é usado rotineiramente. No Brasil, o pioneirismo é do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, no Rio de Janeiro, que contabiliza cerca de 80 casos resolvidos assim. "Quando bem indicada, a terapia rende bons resultados no controle de sintomas como sangramento excessivo", conta a radiologista Fernanda Melo, da Rede D’Or. Não à toa, planos de saúde começam a incluí-la em seu rol de cobertura.
Voltando a falar de futuro — e de câncer —, as expectativas de aplicação não se resumem a osso, mama e próstata. Há estudos iniciais com lesões no fígado e, agora, até tumores cerebrais andam na mira do ultrassom de alta potência. Por enquanto, o ExAblate aguarda a aprovação das agências reguladoras, em especial a americana, que funciona como um termômetro para suas congêneres no resto do mundo. Se ele continuar na trilha do sucesso e receber esse aval, teremos felizmente mais uma arma para torrar a mais ardilosa das doenças.
Hora de fritar tumores
Entenda como funciona o método que ataca o câncer por meio de ondas de som
1) Dentro da máquina
O paciente é deitado sobre uma maca em cima do aparelho de ultrassom, direcionado à região do corpo afetada pelo câncer. Ele é sedado e levado para dentro do tubo de ressonância magnética.
2) Mapeando o ataque
A ressonância magnética permite que, fora da sala, o médico visualize em um computador imagens em alta resolução do epicentro do problema. É feita uma projeção dos pontos que serão destruídos pelo ultrassom.
3) Tiro certeiro
O médico seleciona os alvos e dispara o ultrassom, que aquece o local a uma temperatura acima de 60 graus centígrados. Isso provoca a morte do tecido doente, que necrosa, sem atingir a área saudável
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