Querida filha Pat,
Resolvi lhe enviar essa carta para revelar a angústia que estou vivendo e as dúvidas que envolvem de maneira irresistível minha mente.
Você sabe que estou chegando aos 82 anos e quis a divina providência que me sinta bem, mental e fisicamente, compatível com a longa existência.
Trabalho de segunda a sexta-feira em dois expedientes, a que me submeti voluntariamente, das 8:00 às 12:00 horas e das 14:00 às 17:00 horas.
Acompanho pelos jornais e pela TV, diariamente os acontecimentos locais, nacionais e internacionais.
Ai é que mora o perigo.
Enquanto a caneta e os livros são meus utensílios para o labor, a internet, os laptops, os smartphones, os ipods, os GPS, levam-me a crer que estou vivendo, ou melhor, pretendendo sobreviver, num mundo que não existe mais.
Mas não são somente os estarrecedores progressos, transformação na área tecnológica de comunicações a era que se incluem os celulares, a TV digital, e tantas espantosas invenções, pois tem sido assim na engenharia de um modo geral, na medicina para o bem dos indivíduos, enfim na ciência como um todo e em detrimento dos sentimentos religiosos e a fé, tão importantes ao ser humano.
Porém o que mais aflige minha’alma são os paradoxos deste novo mundo que assistimos diariamente o que me confunde e me assusta.
As catástrofes, tragédias cotidianas que se bem me recordo, não eram rotinas no meu passado.
As contradições como a de hoje,quando a presidenta Dilma lança um nobre, não sei se exeqüível Plano de Erradicação da Miséria, o Brasil inteiro, como o mundo também, vibra ansioso por assistir pela TV, o mais luxurioso espetáculo realizado na terra, o casamento Real na Inglaterra. Só se fala nisto. Ontem de manhã ouvi do meu barbeiro e amigo Galego, a tardinha a verdureira Vera não continha o seu entusiasmo. É uma loucura, independente das classes que integrem.
Por outro lado as guerras no Oriente e na África, tendo como partícipes países desenvolvidos do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul, guerras de informações, participações e razões contraditórias, cujo desfecho é imprevisível para todos os que nela envolvidos estão.
Da política me nego a comentar, pois me sinto como antigo e saudoso militante, envergonhado, verdadeiramente enojado do que somos obrigados a presenciar. Agora só restava essa. O DEM agonizante, seus partidários buscando abrigo no P.S.D. Não discuto o mérito da decisão, que até me aprece acertada, na medida que traga uma mensagem, renovadora, moralizadora que vá ao encontro de grande parte do nosso eleitorado. Porém para um “udenista roxo” que sou até hoje, que encara o partido como um dogma, virar “pessedista” é a suprema humilhação. Nem o sorriso malicioso que o Jú Ramos, antecipadamente estaria fazendo lá nos céus, poderá comemorar tal adesão. Desfiar-me do DEM, não tenho dúvidas. Ser “pessedista” jamais.
Daí porque querida filha fico meditando e me indagando se estou realmente mentalmente são como julgo.
Isso tudo me deixa aflito e me atormenta de tal modo que peguei a minha “velha” caneta para descarregar os sentimentos que invadem minha mente e o meu espírito na esperança de que você possa me ajudar a esclarecer, encontrar um caminho para me aliviar desse “tornado” que me fez mergulhar na escuridão de uma sofrida e penosa angústia.
Um beijo carinhoso do velho pai que não desejaria preocupá-la com meus pensamentos pessimistas ou confusos.
PAULO KONDER BORNHAUSEN